« Hoje, pela manhã, liguei o rádio. Estava a dar a tua música. A nossa música. Todos os meus pensamentos pararam e focaram-se apenas em um único tema. Em ti. A minha mente tornou-se uma constante criadora de palavras e frases que ecoavam repetidamente na minha cabeça. Os minutos passavam mas a música parecia-me sempre a mesma... as palavras eram iguais... o mesmo tema. Deslizei as pernas por entre os lençóis e sentei-me à ponta da cama, na esperança que me viesses agarrar. Respirei profundamente assim que me apercebi que isso não iria acontecer. Deixei escorrer uma lágrima quando me apercebi de que estava novamente, sozinha. Senti o maior calafrio de todos, o maior que alguma vez sentira. Solidão. Olhei para o relógio que assinalava "10:10" da matina. Sabes o que é que isso significa? Que alguém está a pensar em ti - quando o número de horas iguala ao dos minutos. Mas tu não estavas lá. Tive medo de me mexer porque não sentia a tua presença. A cada passo que dava conseguia ouvir todos os teus passos. A cada pestanejar meu conseguia ver todos os teus sorrisos. Arrepiava-me só de pensar que um dia poderia deixar de os ver. Conseguia sentir-te na ponta dos meus dedos a cada toque na parede fria. Vou novamente deixar-me cair sobre o chão, fechar os olhos, esperar que me venhas buscar, para que me possa mover outra vez. Não há lágrima que me mova, não há palavras que me abalem. Não existem dias brilhantes, nem músicas que me embalem. Consigo ouvir-te chamar-me ao longe e ver o tempo recuar... Consigo ver-te a avançar contra esse tempo, como se nada te demovesse. Consigo sentir-te.